Obs G parceiro UOL 2

Conheça a incrível história do professor que revelou ser gay na frente de mil alunos

21/02/2017 20:00
COMPARTILHE
'Eu não sabia que era gay quando estava na escola secundária, nos anos 1990', diz o professor Daniel Gray

'Eu não sabia que era gay quando estava na escola secundária, nos anos 1990', diz o professor Daniel Gray

O professor Daniel Gray nunca tinha falado sobre a sua sexualidade em sala de aula. Mas, para marcar o Mês da História LGBT, que é comemorado durante fevereiro na Grã-Bretanha, criou coragem e contou para mais de mil estudantes que é gay.

"Eu não sabia que era gay quando estava na escola secundária mas, nos anos 1990, parecia que todo mundo em Basingstoke (cidade no sudeste da Inglaterra) sabia", diz.

"Sofri bullying todo santo dia. Era chamado de nomes homofóbicos, era seguido por gangues de garotos, empurrado nos corredores", diz o professor, de 32 anos, que vive atualmente em Brighton, na costa sul inglesa, e leciona em Londres.

"Havia um menino na escola que era assumidamente gay e também sofria bullying. Mas quando fomos falar com a professora, ela disse que aquilo era algo que tínhamos de aturar".

'Endireitar alguns erros'

Daniel conta que sonhava em ser professor ou um astro pop: "Acabou que ser professor foi o sonho mais realista".
"Eu acreditava que podia voltar para uma escola e, com a minha experiência, endireitar alguns erros", completa.

Daniel só passou a se sentir aceito na universidade, onde encontrou outros homossexuais como ele.

O primeiro trabalho como assistente de professor foi em 2008.

Daniel estava tranquilo em relação à sua sexualidade, até ouvir o conselho da professora que o treinava:

"Ela foi categórica ao dizer que não revelasse nada aos alunos porque 'você não quer dar mais munição para os estudantes'".

"Quando comecei a trabalhar (como professor) numa escola católica bem tradicional, fiquei quieto. Na escola seguinte, meus colegas sabiam que eu era gay, mas não os estudantes - embora alguns provavelmete soubessem".

'Foi instintivo'

Há dois anos e meio, Daniel Craig começou a trabalhar na Harris Academy, no sul de Londres.

"Nunca achei que ser homossexual fosse um problema, mas as palavras da professora que me treinou continuavam comigo", explica.

"Eu tinha ouvido falar só de uma pessoa que havia se assumido numa escola, um professor e ativista chamado David Weston, mas não segui o exemplo dele".

Foi assim até o dia em que Weston participou de um treinamento na escola em que Daniel ensinava.

"O treinamento não tinha nada a ver com questões LGBT, mas eu me lembrava dele. Foi instintivo. Era algo que eu sentia que tinha de fazer".

Estava chegando o Mês da História LGBT e o colégio tinha um novo diretor. "Pensei: 'essa é a minha chance'", diz Daniel.

"Achei que eu tinha que sair e lutar. O diretor abraçou minha iniciativa e disse que queria endossá-la junto com todos os funcionários", lembra.

"Era isso. Eu ia contar para mais de mil adolescentes que era gay".

O grande dia

Daniel Craig lecionava em dois lugares diferentes e, como não podia estar em ambos simultaneamente, resolveu fazer um vídeo.

"Falei sobre o Mês da História LGBT e de todas as coisas que a escola estava fazendo para comemorá-lo pela primeira vez".

"Olhei diretamente para a câmera e disse: 'Como homossexual, sei o quanto é importante ter modelos positivos'."

Chegou o momento de mostrar o vídeo aos alunos em duas reuniões de alunos e professores. "Não sei nem como descrever meu estado de nervos", admite.

"De repente, lá estava eu na tela. Estava feito".

"Eu não queria que fosse uma grande façanha, só que as pessoas soubessem que eu estava ali e aceitassem aquilo como algo normal. O fato de ter um professor assumidamente gay nas suas vidas podia fazer uma grande diferença", esclarece.
Quando a reunião acabou, um aluno se aproximou dele.

"Ele não tinha estudado comigo. Parecia muito nervoso e um pouco tímido. Mas tinha algo a dizer".

Daniel lembra que o estudante disse apenas que aquele conselho de classe tinha mudado a sua vida e foi embora.

"Naquele momento, naquele único instante, bem ali, me lembrei da minha razão de ser professor".

'High five'

"Outro estudante disse: 'Oh, meu Deus' e me cumprimentou com um high five. Eu não podia imaginar aquilo", prossegue.

Mas nem tudo foi só alegria: "Recebemos uma queixa de pais e talvez haja mais reclamações".

"O que achei especialmente comovente foi o apoio dos colegas que chegaram a fazer cartazes em apoio aos direitos LGBT depois daquela reunião."

O colégio onde Daniel ensina é parte de uma federação que reúne 41 escolas primárias e secundárias na capital britânica e arredores. Agora, com o apoio de seu supervisor, ele dará palestras nas outras escolas sobre como realizar iniciativas parecidas.

Nick Soar, diretor-executivo da Harris Federation Teaching School Alliance, permitiu que a bandeira do arco-íris fosse hasteada nas escolas do grupo.

"Quando Daniel me perguntou se poderíamos apoiar o mês LGBT, eu senti que havia chegado o momento de deixar claro para os funcionários, estudantes e todas as famílias que eu queria eliminar a homofobia e, mais amplamente, todas as formas de preconceito e ódio."

O professor diz ainda que "ao sair do armário para os alunos, eles puderam ver que o Mr. Gray que sempre conheceram não é diferente de ninguém. Eles também sabem que, se estiverem divididos ou precisarem de apoio, têm com quem contar".

Há algo que Daniel Gray mudaria nessa história?
"Eu não esperaria mais nove anos para fazer isso".

Fonte: BBC

Mais notícias do autor

20ª parada LGBT de Brasília acontece neste domingo e discute a imposição das religiões

20ª parada LGBT de Brasília acontece neste domingo e discute a imposição das religiões

Tradicional Parada do Orgulho LGBTS de Brasília acontecerá no domingo, 25 de junho, com programação das 14h às 21h, com o tema o slogan “Religião, não se impõe. Cidadania, se respeita”. A concentração será em frente ao Congresso Nacional. " A escolha vem pelo objetivo de defesa do Estado laico, no qual o Poder Público […]
Clube Vizinhança oferece aulas de dança de salão para público LGBT

Clube Vizinhança oferece aulas de dança de salão para público LGBT

O Clube Vizinhança abriu os olhos para a diversidade. A partir desta sexta-feira (22/6), o estúdio de dança de salão do centro recreativo realiza aulas voltadas ao público LGBT. O objetivo da nova turma é claro: deixar os casais mais à vontade e trazer alternativas aos passos tradicionais da dança. “Percebi que havia uma grande […]
Após 17 anos, Lei que pune LGBTfobia finalmente é regulamentada no DF

Após 17 anos, Lei que pune LGBTfobia finalmente é regulamentada no DF

O governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg, apresenta nesta sexta-feira (23) a regulamentação da lei que proíbe qualquer tipo de discriminação por conta da orientação sexual ou identidade de gênero. A lei 2.615 de 2000 tem o próprio governador como um dos quatro autores e traz previsão de multas em casos de LGBTfobia. Regulamentação vem […]
Bandeira de Milwaukee, nos EUA, ganha símbolo LGBT no mês do orgulho

Bandeira de Milwaukee, nos EUA, ganha símbolo LGBT no mês do orgulho

A cidade de Milwaukee realizou seu desfile anual do orgulho LGBT em 11 de junho. Os manifestantes apareceram com todo o aparato usual de penas, balões e, claro, bandeiras de arco-íris, mas uma nova bandeira também apareceu este ano, e tem recebido sua cota de atenção. Na verdade, a bandeira realmente antiga - a do […]
Alemanha anula condenações de 50 mil gays por lei nazista e indeniza vítimas da lei

Alemanha anula condenações de 50 mil gays por lei nazista e indeniza vítimas da lei

Vítimas da lei serão indenizadas em 3 mil euros (cerca de R$ 11 mil) para cada ano passado na prisão; estima-se que cerca de 5 mil condenados estejam vivos Cerca de 50 mil homens gays sentenciados a penas por homossexualidade na Alemanha nazista tiveram a anulação das suas condenações nesta quinta-feira (22). O Parlamento alemão […]
linkedin facebook pinterest youtube rss twitter instagram facebook-blank rss-blank linkedin-blank pinterest youtube twitter instagram