Noah Scheffel, 37 anos, é um homem trans, negro, bissexual e um exemplo de dedicação e amor familiar. CEO da EducaTransforma, Noah é pai de duas meninas, Anita e Helena, que o reconhecem como figura paterna, utilizando pronomes masculinos ao se referirem a ele. Em uma conversa com o Observatório G, Noah compartilhou detalhes de sua jornada de paternidade e de sua experiência como homem trans em uma sociedade ainda marcada por preconceitos.

Noah deu à luz à sua primeira filha, Anita, em 2013, quando tinha 26 anos e se identificava com o gênero feminino. Quatro anos depois, em 2017, ele iniciou sua transição de gênero, passando a se identificar como homem. Em 2018, já como Noah, ele registrou a paternidade de Helena, filha de sua esposa, assumindo o lugar deixado vago pelo pai biológico da criança. "Nesse dia, quem já era mãe passou também a ser pai", conta Noah, refletindo sobre como a transição de gênero transformou sua identidade e o papel que exerce na vida de suas filhas.

Para Noah, não há diferença significativa entre ser pai e ser mãe. "O nível de responsabilidades é o mesmo, de cuidado é o mesmo, de companheirismo é o mesmo", afirma ele, reforçando que o que importa é o amor incondicional e o compromisso em construir um mundo melhor para suas filhas. Ele ainda destacou que, durante o processo de transição, não precisou interromper a terapia hormonal, pois quando deu à luz a Anita, ainda era lido como mulher cis pela sociedade.

Noah compartilhou também a história de como se revelou para Anita, então com cinco anos, sobre sua identidade de gênero. O momento foi marcado por nervosismo, mas também por uma empatia genuína da criança, que ao descobrir que sua mãe se identificava como homem, sugeriu: "Então, se tu é menino, tem que ter um nome de menino, mãe". E foi assim, em um estacionamento, que nasceu Noah.

Apesar das conquistas e da aceitação dentro da família, Noah expressou seus medos como pai em uma sociedade preconceituosa. Ele teme por sua segurança e pelo bem-estar de suas filhas, receoso de que elas enfrentem bullying ou preconceito por serem filhas de um homem trans. "Eu tenho muito medo que isso afete a vida delas quando elas forem um pouco maiores", diz ele, revelando que conta com uma rede de apoio para proteger suas filhas dessas possíveis adversidades.

Noah também abordou as dificuldades financeiras que ainda enfrenta para realizar a retificação dos documentos, tanto os seus quanto os de suas filhas. "Apesar de ser em cartório já autorizado, é um processo muito caro", explica.

Por fim, Noah Scheffel se mostra um exemplo de resiliência e amor, buscando constantemente criar um mundo mais justo e acolhedor para suas filhas, e para todos que enfrentam desafios semelhantes em suas jornadas de vida.