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A História Ensina

Trans no SUS: uma história para conhecer melhor

o SUS incorpora os cuidados com a população trans graças a organização desta população
29/04/2022 07:00
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Na publicação anterior comecei a falar da história do chamado “processo transexualizador do SUS”. Como foi que ele surgiu? Publicações sobre pessoas transvestegêneres já existiam bem antes da cirurgia de Waldirene. Revistas de grande circulação nas décadas de 50 e 60 já informavam sobre pessoas que não podiam viver com o gênero que lhes fora designado.

A cirurgia de Waldirene foi sucedida por outras. Inclui a de João Nery, aparentemente a primeira pessoa trans masculina operada no Brasil. Talvez a contribuição posterior de maior impacto tenha sido Roberta Close. Sua carreira inclui o ensaio fotográfico para a edição brasileira da Playboy. Nesta, sua condição de pessoa transgênera estava explícita.

A caminhada rumo à democratização brasileira deu novos ares políticos. O segmento evangélico alavancou sua presença política nesta época. O LGBTQIAP+ também. Esta organização possibilitou a representatividade junto ao Ministério da Saúde. Pessoas vistas como curiosidade, passaram a ter alguma representação em órgãos oficiais. E, segundo fator, a crescente demanda judicial por atendimento na rede pública.

Projetos de lei foram apresentados. Não seguiram adiante. A lógica não era a da livre determinação do gênero. Era de se adequar a uma realidade. Um olhar de “tratar uma doença”. Não o de adequar a uma demanda particular socialmente condicionada.

Progressivamente o Conselho Federal de Medicina aprimora o entendimento. A excepcionalidade das primeiras cirurgias é seguida por lhes conferir o status de “procedimentos em pesquisa”. A evolução do conhecimento colabora. Os resultados positivos apresentados exibem possibilidades. Ambos embasam a decisão de legitimar a rotina. A transformação genital reconhecida como feminina para a masculina, dentro de um processo de cuidados individualizados.

Concomitantemente o Sistema Único de Saúde cria rotinas de assistência. E acaba por incentivar a criação de diversos centros de assistência à população transvestegênere. Ou seja, cada vez mais profissionais envolvidos. Várias áreas de saúde e administração pública tomam ciência da existência de pessoas trans e de suas necessidades específicas. O caminho para uma inserção cada vez mais natural dos cuidados necessários.

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