Trystan, de 34 anos, afirmou à imprensa que passou por uma gravidez tranquila (FOTO: Facebook)
Pessoas transvestegêneres podem engravidar? Pessoas transmasculinas podem ser engravidadas? E pessoas transfemininas podem engravidar outras? (veja gravidez trans no presídio)
A gravidez depende de fatores diversos. São necessárias gônadas que funcionem corretamente e um corpo apto a recebê-la e fornecer o ambiente necessário para o desenvolvimento.
As gônadas são as glândulas responsáveis pelas células reprodutoras. Os ovários (presentes nas pessoas cis femininas, nas trans masculinas e não bináries) produzem óvulos. Ao nascimento, existem milhões deles disponíveis. Na puberdade, centenas de milhares. Os testículos (presentes nas pessoas cis masculinas, nas trans femininas e não bináries) produzem espermatozoides. Diferente dos ovários, a produção de espermatozoides se inicia na adolescência e não é interrompida, sendo um processo constante.
O ambiente para a gravidez significa um útero (em pessoas trans masculinas, não bináries e cis femininas) capaz de receber o óvulo fecundado (chamado “ovo”), proporcionar o ambiente seguro e nutritivo para o seu desenvolvimento. Este ambiente é preparado principalmente pelos hormônios estrógeno e progesterona (produzidos pelos ovários).
Há pessoas transvestegêneres que recebem apoio hormonal para adequarem seus corpos aos critérios sociais de gênero. Há aquelas que não necessitam. Tecnicamente o uso desses hormônios é chamado “uso cruzado”. Pessoas com testículos passam a ter uma quantidade de estrógenos que não são capazes de produzir. As com ovários, uma quantidade de testosterona que não conseguem. Neste momento cabe a pergunta: nestas circunstâncias é possível engravidar?
O conhecimento médico sobre o assunto até o presente momento não é claro sobre esta possibilidade. Ou seja, não é possível confiar que o uso cruzado de hormônios seja um anticoncepcional eficaz.
Verdade que, habitualmente, a menstruação é consequência de uma ovulação sem gravidez. Se não há menstruação, não há gravidez, seria o raciocínio. Verdade, frequentemente. Mas ainda assim pode haver gravidez. Uma criança que se desenvolve em um corpo que recebe testosterona (seja injeção, seja transdérmica) vai sofrer modificações importantes e indesejáveis. Isto não deve acontecer!
É possível uma pessoa trans que tenha útero engravidar após anos de uso de testosterona? Sim, é possível. Mas há perguntas importantes sem respostas claras. Como a testosterona é prejudicial à gravidez, qual o tempo ideal de suspensão antes da gravidez? A suspensão da testosterona pode ressuscitar uma disforia que já existiu?
Uma questão importante: como é a saúde de crianças gestadas por pessoas trans masculinas? Há poucos dados conhecidos. Até o presente momento, os existentes sugerem que elas são tão saudáveis quanto aquelas gestadas por pessoas cis femininas.
Ao longo dos anos alterações ocorrem com os testículos das pessoas que usam estradiol e bloqueadores de testosterona. Quanto maior o tempo de exposição, supostamente maiores serão as alterações encontradas nos espermatozoides. As características que contam: número total, velocidade, viabilidade, morfologia.
Quanto tempo de suspensão do estrógeno e bloqueador para haver capacidade de fecundação? Difícil dizer, e os estudos são poucos. Algumas semanas podem ser necessárias. Mas se as células a partir das quais os espermatozoides são produzidos forem afetadas, as chances se reduzem, e muito.
Outro fator é o aquendar: o esconder os testículos, ou dentro do corpo, ou muito próximos a ele. A temperatura corporal influencia negativamente a produção de células germinativas.