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Pessoas não bináries - você as conhece e reconhece?

as características desta população são desafiadoras para todes, inclusive para quem lhes dá cuidado de saúde
27/10/2022 08:00
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Pessoas não bináries são um desafio. Para todes. Inclusive para pessoas transvestegêneres.

O Primeiro

É com a linguagem inclusiva. A língua portuguesa reconhece 2 gêneros: masculino e feminino. Outras, como a inglesa, possuem o neutro. Pessoas femininas somente se sentirão incluídas quando são referidas no masculino se a gramática for capaz de modificar sentimentos. “Saúdo a todos os presentes” certamente fala das masculinas… Estas se sentiriam incluídas se ouvissem “Saúdo a todas as presentes”? Pessoas não binárias podem se identificar com o masculino ou com feminino. Ou com nenhum. Neste caso as duas formulações não as inclui. “Saúdo a todes presentes” pretende incluir, sem excluir. Os desafios desta linguagem foram abordados em entrevista com Ariel Lovegood.

O Segundo

Iirmana as pessoas cisgêneres e transvestegêneres. Impossível? Não, pois ambas têm dificuldade em compreender e aceitar o não binarismo. Como este termo pode ser compreendido? Segundo Não-Bináries BR, ele carrega consigo diversas possibilidades: agênero, bigênero, demigênero, gênero fluido, gênero neutro, pangênero, poligênero. E o desafio é ainda maior para essa dupla irmã, pois muitas estatísticas, incluindo brasileiras, apontam as pessoas não bináries como o maior grupo entre as transvestegêneres.

O Terceiro

Diz respeito a profissionais da saúde que auxiliam as pessoas transvestegêneres. Ele está no uso de hormônios e processos cirúrgicos.

Testosterona (produzida pelos testículos) e estradiol (produzido pelos ovários) atuam em todo o corpo. Não é possível, por exemplo, esperar que atuem nas mamas mas não atuem nos músculos. As necessidades não-bináries de adequação do corpo ao gênero muitas vezes não são possíveis através destes dois hormônios. Outras substâncias se tornam necessárias.

O conhecimento do uso da testosterona e estradiol pelas pessoas transvestegêneres é bem maior que o sobre uso de outras substâncias. Quanto maior o conhecimento, maior a segurança. O cuidado da medicina para com as não bináries implica em um diálogo franco entre quem cuida e quem recebe cuidado para analisar as diversas possibilidades.

Dentro deste desafio, há outro: a solicitação de cirurgia, como a mastectomia, sem o uso prévio, ou posterior, de hormônios. Este introduz um ator extra, pouco presente nos anteriores: a lei e o direito. O que torna um procedimento cirúrgico legítimo é sua utilidade na preservação da vida e / ou na melhora / manutenção da sua qualidade. Como convencer a medicina de que um sem o outro promove qualidade de vida?

A sociedade brasileira lida mal com o segmento LGBTQIAP+. E o segmento trans é particularmente mal visto. Encontrar profissionais dispostos a discutir essa demanda sem temor de problemas legais não é fácil. Se a possibilidade de atenção particular existe, está disponível a poucos com condições financeiras para tal. Os planos de saúde temerão consequências jurídicas e, amparados pelo que existe até agora, recusarão. E os cuidados do SUS para com a população transvestegênere não prevê cirurgia sem hormônios.

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