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Contra a homofobia

O sofrimento trans na política: risco pessoal, saúde abalada

participar da política partidária faz mal à saúde das pessoas trans, mas não à das pessoas cis
17/05/2022 15:05
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Plano de políticas públicas à população LGBT é lançado em Maceió

Plano de políticas públicas à população LGBT é lançado em Maceió (Foto: Derek Gustavo)

No dia contra o combate a homofobia – por extensão, LGBTQIAP+fobia – a Folha de S Paulo traz um relato preocupante.

Existem duas ilusões quando se fala de homofobia e transfobia.

A primeira: é um assunto social, sem repercussões pessoais.

Mas não é verdade. Já comentei como a transfobia prejudica a saúde física e mental das pessoas trans. Portanto, reduz a expectativa de vida. E piora a qualidade de vida que resta.

A segunda: somente pessoas vulneráveis são vítimas.

Outra inverdade. Basta procurar no google com as palavras corretas. E a reportagem da Folha traz detalhes.

A situação no Brasil

Foram 27 pessoas trans eleitas como legisladoras na última eleição. 24 responderam àquele jornal. Infelizmente, 71% sofreram situações de violência política transfóbica. E 46% foram vítimas de ameaça.

O que é violência política transfóbica? Xingamentos, uso proposital do pronome errado, boicote a projetos, perseguição política, uso do nome errado no site do legislativo.

Qual a reação das casas legislativas? Se 11 sofreram ameaça, 7 receberam apoio das casas legislativas.

O que você faria se recebesse uma nota anônima (demonstração de valentia)? Que avisasse que você seria baleado com um automática 9 mm? Benny Briolly, vereadora em Niterói pelo PSOL, saiu temporariamente do Brasil. Hoje anda com carro blindado.

Gilvam Masferrer, vereadora em Uberlândia, não entra pela porta da frente da câmara. Antes de ser eleita, perdeu 26 dentes (são 32 permanentes na pessoa adulta). Durante a campanha, sua mão foi presa à porta de um veículo.

Como você se sentiria se diariamente ouvisse das pessoas a sua volta: “toma cuidado… Marielle… você pode ser a próxima”. Tieta Mello, S Joaquim da Barra – SP, ouve.

Duda Salabert, mulher trans, é a vereadora eleita com maior número de votos em Belo Horizonte. Perdeu seu emprego como professora. A escola foi avisada que seria transformada “em um mar de sangue”.

Possíveis razões

Isaac Azimov fala, através de um dos seus personagens do épico “Fundação”: “a violência é o último recurso do incompetente.”

Incompetência para viver com o diferente. Para compreender o que vai além da capacidade. Mais fácil destruir…

Ver as pessoas transvestegêneres como aberração é incompetência. Burrice… Maldade… Hipocrisia, se for alguém abertamente religioso.

Desqualificá-las como pessoas capazes de contribuir para o desenvolvimento da comunidade… Não é só incompetência, é desonestidade intelectual e ignorância histórica. O cavalheiro d’Eon de Beamont, diplomata francês e militar, não serviu exemplarmente ao seu pais, sendo mulher trans?

Ser um ambiente despreparado para receber pessoas trans colabora neste quadro. Ser preparado implica estar consciente da vulnerabilidade excepcional delas. Conhecer os direitos. Respeitar as normas de boa educação e civilidade.

Como prestar queixa à polícia, enquanto pessoa trans feminina, em uma delegacia com pessoas masculinas que desconhecem as pessoas transvestegêneres?

Impactos sobre a saúde

Ser parlamentar transvestegênere, ou LGBTQIAP+, ao menos no Brasil, é viver situação insalubre.

Como manter a tranquilidade quando se recebe ameaças de morte? Que podem ser estendidas a família?

Como abandonar o sedentarismo se as vias públicas não oferecem segurança, nem as academias?

Como não se deprimir com atitudes que desencadeiam baixa autoestima?

Participar do universo político para as pessoas trans implica, com frequência, na busca por auxílio psiquiátrico e psicológico. Quantas pessoas cis, por estarem na política institucional, enfrentam o mesmo?

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