
Stonewall - Onde o Orgulho Começou. (Reprodução)
O cineasta Roland Emmerich, etiquetado por seus filmes repletos de cientificismo e ação, deu vida ao drama conflituoso: Stonewall - Onde o orgulho começou. Segundo fontes, Emmerich é um ativista confesso e é exatamente disso que se trata à narrativa: política. Existir como LGBT em um lugar sumamente preconceituoso, onde ser destoante do padrão vigente representava uma anormalidade incontestável.
A história, passada no final de 1960, versa por todos os conflitos experienciados por àqueles que não respondiam às convenções preestabelecidas. A falta de voz dentro da sociedade, o tratamento catastrófico e indigno advindo de agentes do Estado e a exaustão de ser sempre tratado como escória, fez aguerrir um movimento emblemático e indelével, denominado de ‘A revolta de Stonewall’.
A narrativa é protagonizada por Danny (Jeremy Irvine). O jovem possui uma capacidade de inadaptação notória dentro de casa. Assim, oriundo de uma família tradicional, ele é gay e incompreendido. Filho de um pai autoritário e uma mãe omissa, o garoto é expulso de casa pelo pai. Assim, encontrará em Nova York a oportunidade de encontrar amigos com dramas similares. Cada um com uma especificidade e, consequentemente, preconceitos diferentes a serem enfrentados. Dessa maneira, Danny também tem a possibilidade de exercer o autoconhecimento e ter a percepção profunda da própria realidade que o cerca, já que o rapaz habitava anteriormente um lugar pacato.
Assim, ele vai parar na Rua Christopher. Lá conhece Ray (Jonny Beauchamp), um jovem latino afeminado e que, imediatamente, se afeiçoa a Danny e se incumbe de mostrar a ele toda a realidade que permeia aquele local.
Outro cenário que é insistentemente denotado na trama é a prostituição e o roubo, já que figuras marginalizada e vistas como ‘coisas’, só encontravam essa saída para subsistir.
A coibição advinda de policiais era frequente e sempre as mais repressivas e escarnecedoras. Inclusive, outro aspecto preponderante é que em uma das batidas, o policial leva Danny para um lugar ermo e sugere sexo oral. Talvez isso seja um traço característico de homofóbicos.
Agora chegamos em Stonewall Inn, um bar mantido pela máfia. De fato, era lá que gays, lésbicas, drags e trans podiam se divertir. Assim, o local era uma maneira de escapar, pelo menos um pouco, daquela realidade atroz e repressiva. Foi exatamente esse bar que se tornou palco do acontecimento que impulsionou o movimento LGBT e, posteriormente, foi o grande motriz na luta por Direitos.
Na trama, cansados de sempre acatar as ordens de policias e os ditames da sociedade, a comunidade resolveu reagir e foi para cima. Contudo, Danny é retratado como o grande ‘salvador’, quando é o primeiro a lançar um tijolo dentro do bar e bradar pelo ‘poder gay’. Dessa maneira, as críticas incisivas nasceram.
O filme, lançado em 2016, é acusado de estetismo exacerbado, ao colocar um protagonista branco, cis e herói. Segundo os críticos, o intento é ‘higienizar’ o acontecimento. É como se o filme fosse feito, de certa forma, para agradar héteros. As críticas são bem previsíveis, tendo em vista as narrativas vigentes. De fato, colocar um protagonista com o fenótipo polido de Danny causaria barulho, se isso foi intencional já é outra história.
Ainda sobre as críticas referentes à compleição física, faltou representatividade e ser fidedigno à realidade dos fatos. Para os críticos, brancos e cis já têm grande representação midiática, o assertivo seria dar o protagonismo para transativista negra, Marsha P. Johnson, que teve um papel proeminente na revolta de Stonewall e na luta pela politização da sociedade. No filme, Marsha é representada por Otoja Abit.

O longa-metragem dramático mescla aspectos inventivos com reconstituições da realidade. Ou seja, é um feito histórico, mas que envolve e mantém a imaginação do espectador supimpa.
Retomando as críticas, outra reclamação preponderante foi a romantização da trama. Sim, como se os dramas de Danny se tornassem o cerne da narrativa e chamassem mais atenção do que o que deveria ser o verdadeiro foco: o levante iniciado em Greenwich Village.
Dessa maneira, um questionamento bem provocativo chamou atenção: “O objetivo da obra era fazer quem assiste conhecer e saber o que houve em Stonewall ou se apaixonar pelo protagonista”? Isso porque Danny reúne uma série de características irresistíveis: compreensivo, olha nos olhos, sexual, misterioso, doce e, ao mesmo tempo, ferozmente corajoso.

Por fim, independentemente de críticas acertadas ou erros na escolha dos personagens, trazer à luz um acontecimento emblemático como esse tem um mérito incontestável. Pois suscita no espectador o desejo de imergir no que de fato ocorreu, além de despertar para a própria realidade e questionar os preconceitos, que acometiam e ainda acometem nossa sociedade.
Os 50 anos da revolta de Stonewall, enredo central do filme, é o tema da Parada LGBTI+ de São Paulo em 2019.

